Uma crise silenciosa: o abandono animal

O abandono é uma das formas mais cruéis de maus-tratos que os animais enfrentam e que tem crescido de forma alarmante nos últimos anos.

Embora muitos considerem os seus animais de companhia como parte da família, a realidade é que, o abandono, continua a ser uma prática frequente e preocupante. É, por isso, fundamental refletir sobre este problema e procurar soluções eficazes para combatê-lo.

A criminalização do abandono animal está identificada na Lei 69/2014, que prevê penas de prisão até seis meses ou multas para quem abandonar animais de companhia. No entanto, apesar da legislação, o número de animais abandonados continua a ser elevado. Isto revela a necessidade de uma aplicação mais rigorosa da lei e de campanhas de sensibilização mais eficazes.

Portugal tem atualmente mais de 930 mil animais errantes, entre eles 830.541 gatos e 101.015 cães, de acordo com o Censo Nacional dos Animais Errantes realizado pela Universidade de Aveiro para o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Este estudo divulgou dados alarmantes sobre a vida de cães e gatos errantes no país, revelando como são vistos e tratados pela população. Os números são preocupantes e mostram a dimensão do problema que enfrentamos.

A pandemia de COVID-19 agravou esta situação, com muitas famílias a enfrentar dificuldades económicas que resultaram num aumento do abandono de animais. A chegada do verão também contribui para o aumento do problema, com muitas pessoas incapazes de fornecer cuidados necessários e que recorrem ao abandono.

É essencial compreender que o abandono animal é um problema multifacetado, influenciado por fatores económicos, sociais e culturais.

Esta questão tem consequências graves, não apenas para os animais, mas também para a sociedade. Estes enfrentam fome, doenças e atropelamentos, e podem representar um risco para a segurança pública

Além disso, o aumento do número de animais errantes sobrecarrega os abrigos e organizações de proteção, que muitas vezes não têm recursos suficientes para cuidar de todos os que se encontram necessitados.

A proteção dos direitos dos animais é de extrema importância na sociedade e os esforços para reduzir o abandono devem aumentar. As autoridades devem intensificar a fiscalização e punição dos infratores.

É também essencial promover a adoção responsável e a esterilização para controlar a população de animais e, assim que os mesmos são adotados deve ser feita a colocação obrigatória do microchip quer para cão, quer para gato.

Educação e sensibilização são fundamentais nesta luta. As escolas podem desempenhar um papel vital, ensinando às crianças a importância do respeito e do cuidado com os animais desde cedo. A criação de programas educativos pode ajudar a formar uma nova geração mais consciente e responsável.

As organizações de proteção animal e os abrigos precisam de mais apoio. Incentivar o voluntariado e as doações pode fazer uma grande diferença, proporcionando os recursos necessários para cuidar adequadamente dos animais resgatados.

Há um longo caminho a percorrer para acabar com esta prática no nosso país.

No Dia Internacional do Animal Abandonado, que se celebra amanhã, 17 de agosto, é vital que todos nós reflitamos sobre como podemos contribuir para a solução deste problema.

Juntos, podemos fazer a diferença e garantir um futuro melhor para nossos amigos de quatro patas. A responsabilidade é de todos nós!

Artigo de opinião da Dra. Raquel Muro, Médica Veterinária na Kivet, clínicas veterinárias da Kiwoko.

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