A história do Bengal

Produzir um gato bonito como os felinos selvagens, mas com o temperamento dócil dos domésticos. Foi este o desafio que Jean Mill, uma psicóloga especializada em Genética, quis concretizar na sua quinta no Arizona, nos Estados Unidos.

Em 1963, Mill comprou uma fêmea de Leopardo Asiático (Felis Prionailurus Bengalensis), um felino oriundo das selvas da Malásia, Bangladesh e Índia, com o objetivo de a cruzar com um gato doméstico. Dado o mesmo número de cromossomas entre estes dois felinos, seria possível originar ninhadas férteis.

Leopardo Asiático (Felis Prionailurus Bengalensis).

O resultado desta cruza foi uma cria híbrida chamada “Kin Kin” que, meses mais tarde, deu à luz uma bela ninhada.

Contudo, com a morte do seu marido em 1965, Jean Mill abandonou a sua quinta e mudou-se para um apartamento na Califórnia, deixando de prosseguir com a criação. Por consequência deste acto, a experiência realizada no Arizona perdeu a sua influência e já não faz parte das atuais linhas de sangue dos Bengal.

Jean só retomou o trabalho depois de se casar novamente, em 1975, e de voltar a viver numa quinta. Na mesma época, o pesquisador Willard Centerwall, da Universidade da Califórnia, cruzava Leopardos Asiáticos com gatos domésticos para isolar o gene que os tornava imunes à Leucemia Felina.

Mill adquiriu algumas fêmeas das crias híbridas nascidas das experiências de Centerwall e cruzou-as com um gato de marcações similares às do Leopardo Asiático, encontrado e resgatado da rua numa viagem à Índia, em 1980. Este macho foi apelidado de “Milwood Tory of Dehli”.

No processo, Jean observou que algumas fêmeas híbridas nasciam férteis, enquanto os machos férteis só começaram a surgir a partir da 4ª geração. Inseriu gatos de outras raças mas com igual pelagem marcada, como o Mau Egípcio e o Ocicat, com o objectivo de tornar os Bengal mais parecidos com um gato doméstico.

“Utilizá-los dilui os genes das características físicas típicas dos felinos selvagens. (…) Já temos manchas suficientes e devemos agora fixar melhor os demais itens que garantem a aparência selvagem”, afirmou Jean Mill, referindo-se dificuldade de obter orelhas pequenas e arredondadas, as marcações com contraste acentuados e as manchas com alinhamento horizontal e aleatório, características pedidas no atual estalão oficial da raça.

O primeiro exemplar de Bengal registado na TICA (The International Cat Association) foi “Millwood Finally Found”, em 1983. No entanto, a CFA (Cat Fanciers Association) e a FIFe (Federação Internacional Felina) não lhe atribuíram de imediato o mesmo privilégio.

A demora no reconhecimento da raça prendia-se com o instinto ainda muito selvagem dos exemplares das primeiras gerações. Exemplo disso, foi um infeliz incidente decorrido numa Exposição da CFA entre um híbrido F1 (1ª geração) e um juiz, que foi gravemente mordido.

Desta forma, todos os gatos que possuíssem sangue selvagem não poderiam ser registados. Tal só foi conseguido a partir da 4ª geração, “bisnetos” dos primeiros híbridos.

©CATS PT magazine

Os Bengal foram ganhando cada vez mais popularidade nos Estados Unidos e, em maio de 1992, foram finalmente reconhecidos pela TICA, altura em que foi também definido o estalão da raça. Pouco depois, obteve também o reconhecimento da CFA, em 1997; e da FIFe, em 1998.

Por: Inês Ribeiro Sequeira

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